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A porção setentrional do Cráton São Francisco


O território brasileiro comporta quatro crátons, - territórios antigos e tectonicamente estáveis por um período igual ou superior a 200 milhões de anos atrás, perdurando o atectonismo até os dias atuais - Amazônico, São Francisco, São Luís e Rio de La Plata. O Cráton São Francisco, abordado neste texto, compreende os estados da Bahia, Minas Gerais, Sergipe, Pernambuco, Tocantins e Goiás, concentrando-se nos dois primeiros. Ao leste, o Cráton São Francisco é limitado pelo Oceano Atlântico, ao Sul pela Faixa Alto Rio Grande, ao Sudeste pela Faixa Araçuaí, ao Oeste pela Faixa Brasília, ao Noroeste pela Faixa Rio Preto, ao Nordeste pela Faixa Sergipana e ao Norte, porção do cráton a ser discutida adiante, pela Faixa Riacho do Pontal.


A região setentrional do Cráton São Francisco se localiza majoritariamente em território baiano e é composta pelos blocos Gavião, Jequié, Serrinha e pelo Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá, sendo todos exemplos de terrenos arqueanos, ainda que de idades distintas entre si.

Apesar de constituírem unidades diferentes, é importante ressaltar que se relacionam na história geológica, tal como uma colisão entre esses blocos durante a Era Paleoproterozóica, resultando em processos metamórficos e plutônicos. Abaixo, serão detalhadas as unidades previamente mencionadas:

  • Bloco do Gavião

Datando do Mesoarqueano, representa as rochas mais antigas do cráton, consistindo em um “núcleo” relativamente intacto e uma borda retalhada. Neste bloco, é notável a presença de Greenstone Belts, deformações e metamorfismo da fácie do anfibolito. Quanto às deformações presentes no Bloco do Gavião, observa-se o aumento da intensidade conforme se caminha para o centro, sendo que o mesmo padrão pode ser observado para o grau do metamorfismo.


  • Bloco Jequié

É formado principalmente por migmatitos, granitoides, metassedimentos e rochas vulcânicas ácidas, podendo também ser encontrados ortognaisses bandados. Assim como o Bloco do Gavião, apresenta deformações, mas com grau distinto de metamorfismo, correspondendo à fácies granulito. No Bloco Jequié, os migmatitos

A imagem acima exibe as unidades constituintes são as rochas identificadas como mais antigas, da porção setentrional do Cráton São Francisco. enquanto as intrusões magmáticas são datadas como A cor bege representa o Bloco Gavião, a amarela mais recentes. Além disso, o bloco é constituído o Bloco Jequié, a roxa o Bloco Serrinha e a azul o pelo Complexo Jequié, também chamado de Arco Bloco Itabuna-Salvador-Curaçá, também chamado de Magmático de Margem Continental Jequié, uma vez que Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá. Os números que dados geológicos e geoquímicos obtidos na região aparecem sobre os blocos representam suas idades . indicam que o bloco representa um antigo arco em Ga. magmático maduro, continental e neo-arqueano.

  • Bloco Serrinha

Constitui-se por granitos e tonalitos datados do Mesoarqueano. Assim como todos os blocos contidos na porção setentrional do Cráton São Francisco, apresenta metamorfismo, mas nesse caso nas fácies anfibolito. Há, sobre o embasamento citado, sequências do tipo Greenstone Belts, sendo essas recristalizadas na fácies xisto-verde. O Bloco Serrinha contém, em seus ortognaisses, registros de importantes episódios formadores de crosta.


  • Cinturão Itabuna-Salvador-Curaçá

Representa um cinturão magmático predominantemente constituído por tonalitos, trondhjemitos e metassedimentos, todos originados entre o Neoarqueano e o Paleoproterozóico, sendo identificado como o componente mais jovem da porção Na imagem acima, o Cráton São Francisco e sua localização setentrional do cráton. Observam-se rochas em relação ao resto do país e aos estados próximos. deformadas e metamorfizadas, dessa vez na As unidades 1, 3, 5 e 7 correspondem aos constituintes da fácies granulito. O contato entre o Cinturão e porção setentrional do Cráton São Francisco e as cores o Bloco Serrinha é abrupto e marcado por demarcam as unidades geológicas de acordo com a legenda. diversas falhas cisalhantes, sendo possível observar a delimitação brusca entre as fácies granulito e as xisto-verde.


DEPÓSITOS MINERAIS DO CRÁTON SÃO FRANCISCO SETENTRIONAL


Parte da relevância econômica da porção setentrional do Cráton São Francisco advém dos Greenstone Belts - sequências de rochas arqueanas majoritariamente vulcânicas e sedimentares metamorfizadas em grau relativamente leve onde é comum encontrar depósitos minerais de extrema relevância - lá localizados. Podem ser citados diversos exemplos de Greenstone Belts presentes na porção setentrional do Cráton São Francisco, tais como Mundo Novo, Lagoa do Alegre, Guajeru, Umburamas, Brumado, Ibitiba-Ubiraçaba e Boquira, dentre outros. A região conta com depósitos minerais importantes, como por exemplo as concentrações de magnesita no Greenstone Belt Brumado, associado a reservas locais de talco e identificado como o maior da América do Sul, além do depósito de manganês, encontrado no Greenstone Belt Urandi-Licínio de Almeida.


Observa-se que o potencial de exploração do Cráton São Francisco está dividido de maneira diversificada em seus componentes. No Greenstone Belt Mundo Novo foram identificados depósitos do tipo VMS (volcanogenic massive sulfide, associados a eventos vulcânicos em ambientes ocêanicos de maneira a possibilitar a concentração de metais em uma solução hidrotermal) contendo, além de reservas consideráveis de zinco, ouro, prata, cobre e chumbo, apesar de estes estarem presentes em menores quantidades. Outro depósito contendo chumbo e zinco se localizava no Greenstone Belt Boquira, tendo representado a maior fonte de chumbo no país por quarenta anos até o fim do século passado, quando a mina foi exaurida.


A reserva de magnesita de Brumado, previamente citada, é responsável pela maior parte da magnesita extraída em território nacional, podendo ser utilizada na fabricação de refratários, na obtenção de magnésia cáustica, dentre outros usos em diversos ramos da indústria.


O maior depósito brasileiro de cromita também se localiza na porção setentrional do Cráton São Francisco, no Vale do Jacurici, assim como as ocorrências mais significativas de esmeraldas no Brasil, na Serra de Jacobina. Em Caetité encontram-se as mineralizações de urânio mais importantes de toda a América do Sul, que já estão sendo exploradas.


A riqueza mineral do Cráton São Francisco vai além da dimensão dos depósitos, compreendendo também as suas diversidades. Além dos exemplos citados, são encontradas reservas de ouro, como a Fazenda Brasileira, a Serra de Jacobina e as regiões da Chapada Diamantina, de níquel, na Mina Mirabela, e de diamante, na Província de Braúna.


Autora: Ingrid Grube


Referências:

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