As Províncias Amazônia Central e Rio Negro são duas províncias majoritariamente paleoproterozoicas do Cráton Amazônico (Figura 1).
Figura 1 – Províncias do Cráton Amazônico (Fonte: Modificada de Vasquez et al. 2008b.)
Província Amazônia Central
Localização
A Província Amazônia Central, como o próprio nome indica, está localizada na porção central do Cráton Amazônico. Essa província é alongada de norte a sul, de modo que sua face oeste faz limite com a província Tapajós-Parima e a face leste com as províncias Transamazonas e Carajás. Essa província se divide nos domínios Erepecuru-Trombetas (DET) e Iriri-Xingu (DIX). (Figura 1).
Geologia Regional
A Província Amazônia Central tem orientação preferencial NNW – SSE que é concordante com a província de Tapajós-Parima e é discordante com as províncias que ficam a leste e apresentam orientação preferencial E-W ou NW-SE. A definição do limite entre a Província Amazônia Central e as Províncias Transamazonas e Carajás é simples em função da diferença de sua estruturação tectônica, entretanto para o estabelecimento do limite entre a Província Amazônia Central e a Província de Tapajós-Parima é necessária a realização da análise isotópica de Nd como critério de distinção.
Figura 2 – Mapa Geológico do Domínio Erepecuru-Trombetas – DET (Figura 2A) . Mapa Geológico do Domínio Iriri-Xingu – DIX (Figura 2B). Legenda do mapa geológico. (Figura 2C). (Fonte: Modificadas de Vasquez et al. 2008b).
Vulcano-Plutonismo Paleoproterozoico
Rochas graníticas, gabroicas e vulcânicas podem ser encontrados no DET e no DIX da Província Amazônia Central, essas rochas são principalmente do Orosiano e Sideriano.
No DIX as rochas vulcânicas são principalmente rochas félsicas como riolitos, dacitos e piroclastos do Grupos Iricoumé e Iriri. Entre as plutônicas podemos encontrar suítes alcalinas compostas por granitos, feldspato alcalino granitos e quartzo sienitos das Suítes Intrusivas Mapuera e Velho Guilherme (granito tipo A e Sienitos Erepecuru e Gabiraba).
No DET pode ser identificado um vulcano-plutonismo cálcio-alcalino de alto K, representado pelos granitóides da Suíte Intrusiva Água Branca associados às rochas vulcânicas ácidas do Grupo Iricoumé e ainda podem ser encontrados diques de Vogesito, Espessartito e Kersantito (Rodrigues et al. 1978). Esse magmatismo está supostamente associado a um ambiente tectônico de arco magmático envolvendo subducção.
Coberturas Sedimentares Paleoproterozoicas
No DIX podem ser identificadas também rochas sedimentares paleoproterozoicas relacionadas a dois momentos de sedimentação, um pré e outro pós evento de vulcano-plutonismo.
A deposição “pré” é uma bacia de sedimentação continental representada principalmente pelos metarenitos e metaconglomerados da Formação Castelo dos Sonhos. A deposição “pós” é representada principalmente pelas Formações Triunfo e Cubencranquém, que consistem em quartzo arenitos, arenitos arcoseanos e líticos, com conglomerados polimíticos, siltitos e pelitos, além da presença massiva de material vulcânico e piroclastos.
No DET essas coberturas são menores e representadas pela formação Urupi. É importante dizer que a intercalação de rocha e material piroclástico indica que essas coberturas foram contemporâneas aos eventos de vulcanismo.
Rochas Máficas Proterozoicas
Sabe-se que diversos eventos magmáticos ocorreram no Cráton Amazônico, mas na Província Amazônia Central esses corpos sub vulcânicos foram mapeados principalmente com geofísica e sensoriamento remoto, de modo que eles carecem de informação petrográfica para realizar um diagnóstico mais otimizado. A maior parte das rochas não estudadas são referidas com rochas máficas indiferenciadas.
Intrusões Alcalinas Proterozoicas
O DET é marcado por dois eventos marcantes de intrusão alcalina subsaturada em sílica , um deles formou o Sienito Mutum e o outro formou o Complexo Alcalino de Maicuru. O Sienito Mutum consiste de nefelina sienitos com aegirina, lepidolita, cancrinita e carbonato magmático (Oliveira, 1975). Já o Complexo Alcalino Maicuru é uma instrução máfica-ultramáfica alcalina com carbonatito, no qual podemos encontrar piroxenitos, dunitos, sienitos e traquitos, além de carbonatitos e glimeritos com veios e segregações de apatitito. (Lemos, 1988)
Metalogenia
Depósitos Auríferos
A Formação Castelo dos Sonhos, no sudoeste do DIX, abriga o depósito Aurífero Esperança. As rochas são quartzo arenitos acinzentados, conglomerados com seixos e grânulos de quartzo e arcóseos avermelhados fortemente silicificados subordinados. O depósito é uma sinforme aberta de baixo ângulo com eixo direcionado para SW, na qual ocorreram intrusões subvulcânicas félsicas e máficas em rochas sedimentares, que sofreram metamorfismo termal e alcançaram fácies anfibolito interior, essas intrusões provavelmente foram responsáveis pela reconcentração aurífera do depósito. (Yokoi et al. 2001). O ouro neste depósito pode ocorrer de forma livre e intergranular em metaconglomerados, com grãos entre 5 e 200 μm de diâmetro, isso sugere que esse depósito seja do tipo paleoplacer.
A margem esquerda do rio Curuá está localizado o depósito Madalena que consiste na intrusão de um pluton zonado composto por sienogranito, monzogranito e quartzo monzonito, cortando as rochas vulcânicas do grupo Iriri. O minério está hospedado no Quartzo Monzonito aparecendo principalmente em vênulas de quartzo sulfetado, mas também em veios de quartzo cisalhados. Os principais sulfetos associados ao ouro são a pirita, a arsenopirita e a pirrotita, sendo que alguns destes podem ser encontrados teores acima de 30 ppm. Essa mineralização intrusiva do ouro explorada na atividade garimpeira regional (Figura 3) e os depósitos alvos são principalmente as rochas vulcânicas com fraturas preenchidas por vênulas silicosas com ouro e sulfetos (aspecto parecido com stockwork).
Figura 3 - Garimpo no Rio Curuá.(Fonte: Instituto Kabu, 2018)
Depósitos de Estanho em Greisen e Placers
É importante falarmos sobre a Província Estanífera do Sul do Pará (Teixeira 1999), essa é composta pelas ocorrências de Estanho em Granitos da Suíte Intrusiva Velho Guilherme, próximo a região de São Félix. As rochas da suíte intrusiva são principalmente sieno e monzogranitos com ocorrências também de feldspato alcalino granitos e granitos granofíricos. As mineralizações de estanho são principalmente em stockwork e greisen, mas as maiores concentrações são encontradas em aluviões, configurando depósitos de tipo placer. Apesar dessa presença o depósito não é tão relevante nacionalmente como as províncias estaníferas de Pitinga e Rondônia.
Depósitos de Cassiterita
Os depósitos de Antônio Vicente, Mocambo e São Pedro do Iriri são marcados pela presença de Cassiterita. Em Antônio Vicente a mineralização resulta da lixiviação e oxidação de minerais primários de estanho e ocorre em muscovita-quartzo greisen e clorita-siderofilita-muscovita-quartzo greisen. No maciço mocambo a cassiterita ocorre principalmente em um clorita-siderofilita-muscovita quartzo greisen e no sienogranito com muscovita encaixante, com processo de mineralização semelhante ao anterior.
Em São Pedro do Iriri a Cassiterita está contida principalmente em depósitos aluvionares, com reserva avaliada em 6400t de cassiterita com teor médio de 700g/m³. A fonte de mineralização desses depósitos aluvionares são greisens de 4 a 5 metros de largura e granitos alterados hidrotermalmente do Maciço São Pedro do Iriri.
Depósito de Fosfato e Titânio
Depósito Alcalino do Maicuru é conhecido pela mineralização de Fosfato e Titânio, este depósito está associado a uma intrusão alcalina subsaturada do tipo carbonatítica, com rochas máficas e ultramáficas associadas. Essa mineralização está incluída em uma intrusão chamada Complexo Alcalino Maicuru que pode ser identificado a partir da observação de um platô no meio da paisagem plana e também através de uma assinatura geofísica com pequenos dipolos isolados em regiões de relativa estabilidade magnética. As elevadas concentrações de Titânio e Fosfato são encontradas principalmente nas coberturas lateríticas da região e estima-se uma reserva de 200 Mt com teor médio de 15% de P2O5 e 5.000 Mt com 20% de TiO2.
Figura 4 - Geologia e modelo digital de terreno da área do Complexo Alcalino Maicuru (4A). Feições aerogeofísicas do corpo Maicuru: aerogamaespectrometria e modelo digital de terreno – contagem total (4B).(Fonte: CPRM, 1978).
Província Rio Negro
Localização
A província Rio Negro fica localizada no extremo norte do Brasil, na divisa com a Colômbia e com a Venezuela, próxima a linha do equador da terra. O fato de estar perto da fronteira gera uma série de implicações especiais quanto a exploração mineral e ativa um alerta nacional em função da proteção de seus depósitos, isso porque na região tem-se a presença de um depósito mineral de importância mundial.
Geologia Regional
Figura 5 – Mapa Geológico da Província Rio Negro (Fonte: CPRM, 1978)
A Província Rio Negro é subdividida nos Domínios Imeri e Alto Rio Grande. O Domínio Imeri apresenta direção geral NE-SW, mas é rico em feições internas deformadas heterogeneamente em função de zonas de cisalhamento. O contato basal é com o Complexo Cauaburi, grande parte deste domínio também está ocupada por coberturas sedimentares (CPRM 2006).
O domínio Alto Rio Negro ocorre na porção ocidental da província e é orientado com direção NE-SW, sendo que localmente apresenta feições de direção NNW-SSE e E-W. Grande parte deste domínio está coberto por deposições sedimentares fanero-cenozóicas e o embasamento é desenvolvido a partir dos Complexo Querari (ortognaisses dioriticos a graníticos) e do Grupo Tunuí (paraderivadas migmatizadas).
Os estudos sobre a província se concentram no detalhamento do depósito, de ordem mundial, Seis Lagos e são escassos no detalhamento das demais ocorrências minerais.
Indícios Minerais Diversos
Graças a essa carência de estudos, muitos dos minerais encontrados só permaneceram como ocorrências minerais, não evoluindo para a classe de depósito. Entre essas ocorrências podemos citar brevemente:
Cobre e Ouro – Ocorrem relacionadas a rochas Metavulcanossedimentares Daraá, Aracá e Tunuí e a complexos granito-gnáissicos do embasamento;
Estanho, Nióbio-Tântalo, Metais Raros e Minerais de Pegmatito – Ocorrem relacionados aos Granitóides Marié-Mirim, Marauiá e Tiquié;
Estanho, Tungstênio, Nióbio e Terras Raras – Ocorrem associados ao Granito Igarapé Reilau;
Cobre, Cromo, Cobalto, Níquel e Platinóides - Ocorrem relacionadas a rochas Máfica-ultramáfica Tapuruquara.
Para alcançar um detalhamento maior sobre a metalogênese destas ocorrências, estudos mais aprofundados são necessários.
Metalogenia
Depósito de Nióbio
Sem dúvidas o deposito mais importante da Província Rio Negro é o depósito de Nióbio de ordem mundial que acontece em Seis Lagos que está localizado na cabeceira do rio Iá. Na região são identificadas estruturas de forma circular que representam o Carbonatito Seis Lagos ou as Alcalinas Seis Lagos, que formam um complexo ultramáfico/carbonatítico com a presença de canga niobífera. Esse depósito data do Jurássico/Cretáceo e está relacionado a abertura do Graben do Tacutu.
O complexo Seis Lagos é considerado um complexo carbonatítico mineralizado em Nióbio do tipo siderita-sovido (Issler & Silva, 1975). Esse tão estimado elemento se encontra na estrutura do rutilo e da brookita que estão presentes na canga ferrífera e a maior parte das amostras analisadas na região identifica mais de 2000 ppm dessa substância, culminando em reservas totais que alcançam 81.431.237 toneladas de Nb2O5.
Nesse complexo carbonatítico podem ser encontradas outras substâncias minerais, mas o Nióbio ganha destaque por ser um mineral estratégico para o Brasil que detém a maior parte das reservas de nióbio do mundo. Na Figura 6 pode ser vista a distribuição espacial de elementos no Morro dos Seis Lagos.
Figura 6 – Distribuição de elementos Morro dos Seis Lagos. (Fonte: Viégas Filho & Bonow, 1976).
Autor: Nathan Martins
REFERÊNCIAS
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CPRM. 1978. Projeto Jari/Rio Negro (Leste): Levantamentos aerogamaespectrométrico e aeromagnetométrico do Território Federal do mapá e Estado do Pará.
CPRM. 2006. Programa Integração, Atualização e Difusão
de Dados da Geologia do Brasil: Subprograma
Mapas Geológicos Estaduais.
Garimpo no Rio Curuá, Terra Indígena Baú dos Mebêngôkre Kayapó e Mebêngôkre Kayapó Mekrãgnoti . Instituto Kabu, Pará, 2018. Disponível em: <https://xingumais.org.br/acervo/garimpo-rio-curua-terra-indigena-bau-mebengokre-kayapo-mebengokre-kayapo-mekragnoti.>
Issler R.S. & Silva G.G. 1975. The Seis Lagos Carbonatite Complex. In: SBG, Intern. Symp. Carbonatites, Poços de Caldas, Minas Gerais.
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Rodrigues E.G., Oliveira J.R., Pena Filho J.I.C., Araújo C.D.M. Furtado A.M.M.1978. Projeto Curuá-Cuminapanema: Pesquisa mineral. Relatório anual de reconhecimento. Belém, Sudam/Idesp.
Oliveira A.S., Fernandes C.A.C., Issler R.S., Abreu A.S., Montalvão R.M.G., Teixeira W. 1975. Geologia da Folha NA 21 – Tumucumaque. Projeto Radambrasil, Levantamento de Recursos Naturais. Rio de Janeiro, DNPM,
Vasquez M.L., Rosa Costa L.T., Silva C.M.G., Klein E.L. 2008b. Compartimentação Tectônica. In: M.L. Vasquez;L.T. E Rosa-Costa (orgs.) Geologia e Recursos Minerais do Estado do Pará: Sistema de Informações Geográficas – SIG: Texto explicativo dos
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Vasquez, Marcelo. (2014). Metalogênese Da Província Amazônia Central. In: Silva M., Rocha Neto M.B., Jost H., Kuyumjian R. Metalogênese das Províncias Tectônicas Brasileiras Brasília, Serviço Geológico do Brasil (CPRM), p 269-283.
Viegas Filho J.R. e Bonow C.W. 1976. Projeto Seis Lagos. Relatório Final. Manaus, Convênio DNPM/CPRM,
Teixeira N.P. 1999. Contribuição ao estudo das rochas granitóides e mineralizações associadas da Suíte Intrusiva Velho Guilherme, Província Estanífera do Sul do Pará. Tese de Doutorado
Yokoi Y.O., Oliveira A.L.A.M., Tachibana J. 2001. General economic geology of the High Tapajós Basin (The “Cachimbo” Graben) and its boundaries: A regional geological survey with exploratory purpose. In: SBG, Simpósio. Geologia. Amazônica.
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